segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

A menina que não sabia ler








Esse livro é claramente um poço de discórdia entre seus leitores. Ouvi tantos bons comentários que pensei estarem criando uma religião pra ele, e depois ouvi tantos comentários ruins que parecia que a Igreja teria retomado a Inquisição. E não há nada como uma boa polêmica pra me animar as tardes de domingo (depois eu me pergunto por que vou mal na faculdade), decidi me aventurar. Ele segue a linha dos outros milhares de dois livros que eu falei aqui: livros falando sobre livros.
Se bem que esse não é muito bem o tema do livro. Florence é uma menina órfã que, ao contrário de muitas pessoas normais, ama seu irmão com devoção. Porém, ela tem sonhos assustadores, e algumas visões no mínimo sinistras sobre ele e aparentemente sobre algo que aconteceu há muito tempo atrás.
Não se enganem. Apesar da capa ser fofinha, o título aparentar um drama e ser protagonizado por crianças, o livro é tranquilamente classificado como terror.
Juro, quando a bruxa pega o Giles e diz: "Oh, meu querido, eu poderia comê-lo!" eu suei frio.
Pode parecer que não aqui, MAS É SIM! PARE DE RIR DE MIM!
Apesar das maravilhas, eu não recomendo o livro com muita convicção. O autor encaminhou o livro perfeitamente quase todo o tempo. De fato, na maior parte, ele me amarrou na cama, me chicoteou, me chamou de vadia e então...

...hum? O quê? Eu não disse nada!



ahnnn...

O autor encaminhou o livro muito bem. Exceto o final. Esse maldito desfecho que pode salvar um livro péssimo (A batalha do Apocalipse) ou derrubar sem dó uma ótima história.
Caso deste.
Já ouvi inúmeras resenhas dizendo que "preferiu deixar o final em aberto" ou "quis que o leitor imaginasse o próprio fim" ou até "quis desenganar da suposta inocência de uma garota, e nos mostrar outra faceta do ser humano".
Oras, sabe como um livro deixa o final em aberto decentemente? Desventuras em série. Todos os treze da série ficam em aberto, e mesmo assim, o autor provou que é mais do que competente em sua profissão. Mas falo dele outro dia.
O leitor não imagina o fim. Infelizmente, nossa maioria é incapacitada de imaginar qualquer desfecho, e por isso NÃO SOMOS ESCRITORES! É papel de vocês fazer um fim para nós!
E desenganar a suposta inocência? Ora, por favor. As crônicas de gelo e fogo dá de dez a zero nele com um pé nas costas e tricotando com o outro.
Eu apenas acho que ele não tinha a menor ideia de como terminar. Simples assim.
Como eu agora.
E pare de pensar em mim amarrada e chicoteada!


Título: A menina que não sabia ler ( Florence and Giles)
Autor: John Harding
Editora: Leya
Ano: 2010
Motivos para dar de presente: se você comprou sem querer...

sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

A sombra do vento




Meus melhores textos foram escritos entre a sétima e o segundo ano. Eu só escrevo agora por causa das minhas professoras de português do colégio, que diziam que eu tinha talento ¬¬
Talvez porque eu não tentava fazer um bom texto, só sentava e escrevia... Talvez eu deva tentar escrever aleatoriamente de novo, e torcer para não sair essas merdas de ultimamente.
Sou uma escritora fracassada, não tenho vergonha de admitir. Muitas e muitas vezes tentei escrever um livro digno de Luis Fernando Verissimo, ou Machado de Assis, ou Christopher Paolini, ou, Deus me perdoe, J.R.R. Tolkien. (todos estilos parecidíssimos, como vocês podem ver), embora o resultado sempre tenha sido vergonhoso.
Em minha defesa, quem não ficaria com vontade de escrever uma obra-prima depois de ler “A Sombra do Vento”? Por causa dele eu decidi sempre ter um personagem chamado Julián e outro chamado Bea. O três vezes maldito autor sempre me deixa com água na boca depois de ler qualquer um de seus livros, mas foi esse que mais me encantou. A história parece ser escrita com tanta facilidade que parece que o próprio livro tem vida. Aliás, uma das melhores características dele é que fica falando o tempo todo de livros, ou seja, de si mesmo, sem perder o charme (charme?) e o mistério.
Quem disse que um livro não pode ser romântico, mesmo cheio de putaria? É crianças, não é um livro nada inocente, se você teve a idéia de dá-lo de presente para sua sobrinha meiga e crepusculete, esqueça. Além dela não entender nada, vai achar que o romance é frio e "fora da realidade" (ao contrário dos vampiros purpurinados), só porque não tem essa idiotice de amor-à-primeira-vista, e príncipe-encantado-perfeito. Tem o seu felizes-para-sempre como deveria, claro, mas não do jeito que um leitorzinho desejaria.
De fato, é um livro bem equilibrado. Tem boas doses do característico humor espanhol, que me alegraram as noites. Tem tantas máximas e novos ditados que deve ser insuportável viver com o autor, ou ele deve ser o guru mais procurado da Europa. E sim, tem uma forte dose de suspense, tanto que tive pesadelos envolvendo um louco com a camisa do Flamengo, e tive que ser confortada pelo meu namorado imaginário, o Jack.
Vocês tem que concordar comigo que só um verdadeiro mestre consegue nos dar medo com um punhado de letras combinadas quase aleatoriamente . Stephen King que o diga.
E tenho a impressão que não deveria estar postando minha agitadíssima vida íntima na internet pra todo mundo ver.

...


#mudardeassuntoagora


Um livro não consegue ser cativante só por causa do seu estilo. Sempre digo – na verdade, digo pela primeira vez agora - que um romance tem dois jeitos de segurar seus leitores. O primeiro é o jeito como ele é contado, como o autor conta a história, não o enredo em si.
Mais ou menos como a maioria dos filmes de ação. 90% do orçamento vai para efeitos especiais, 7% para contratar femmes fatales e dois cafés com bolinhos como pagamentos para os roteiristas.
Outro jeito é a própria história. Se for original e bem bolada, com traições e parentescos desconhecidos na hora certa, segura aquele leitor que interessa: o que possui um cérebro funcional.
Como aqueles filmes maravilhosos que curiosamente não fazem muito sucesso entre o povo, como Xeque-mate, Clube da luta e A Origem (ainda não engoli que perdeu o Oscar ¬¬).
Mas, e a Sombra do Vento?, você me perguntará. Meu pequeno gafanhoto, o jeito ele já tem. Na primeira página já se nota isso. E seu enredo também é... como vou dizer?...
Perfeito.
A história é contada em primeira pessoa, na voz de Daniel Sempere, um jovem de 16, 17 anos. Daniel tem muitas recordações de sua infância, em especial o dia em que é levado pelo pai onde tudo começou: o Cemitério dos Livros Esquecidos.
Se houver um paraíso, deve ser entre aquelas estantes.
Daniel encontra um livro, chamado, adivinhem? “A Sombra do Vento”, de um desconhecido Julián Carax.
Por alguns motivos, o rapaz tem que descobrir quem foi esse autor, e por que há um mistério tão grande ao seu redor. Junto com o protagonista, viajamos por Barcelona, e conhecemos um pouco de sua história, tanto real quanto ficcional. Mas cuidado: Zafón deixa pouca coisa concreta na história. A maior parte do livro é feita de conjecturas e mentiras, até mesmo quando Daniel descobre a história de Julián paira uma dúvida no ar. Também é preciso cuidado para não se perder na linha do tempo. Num parágrafo, Julián Carax é um homem, no próximo nem nasceu ainda. Talvez seja por isso que o livro causa tanta estranheza no começo. Mas continue, ele vai se tornar um de seus melhores amigos no fim.


Título: A sombra do vento (La Sombra del Viento)
Autor: Carlos Ruiz Zafón
Editora: Objetiva
Ano: 2001
Motivos para dar de presente: o presenteado já leu algum livro na vida? Se sim, e não for na linha "Crepúsculo", "Fallen", "Sussurro", "Morada da Noite" ou algo assim, dê. Mas decore primeiro.

domingo, 18 de dezembro de 2011

O começo



Minha primeira postagem, viva! Tá, tá, eu sei que esse blog não vai ser muito popular nessa vida. Até porque eu decidi falar sobre livros, minha paixão, e ninguém nesse país costuma ler tanto assim que acessaria um blog para saber minha opinião sobre páginas impressas. Mas whatever, ainda assim decidi escrever o que as pessoas ao meu redor nunca estavam interessadas em ouvir.
E nada melhor para começar do que com um de meus livros mais-que-preferidos: A menina que roubava livros.
Quando eu comprei esse livro, sinceramente não sabia o que esperar. Ele estava há umas cinco semanas na lista dos mais vendidos da Veja, o que significa que poderia ser uma grandessíssima porcaria tranquilamente. Além disso, o tema era tão batido que poderia virar claras em neve: a Segunda Guerra Mundial, como ela mudou o mundo, como Hitler era um monstro, blá-blá-blá. Mas o que me convenceu a gastar meu suado dinheirinho foi a contracapa:

"Uau, véi, a morte contando uma história! Deve ser tãããããão surreal!"
É, foi exatamente o que pensei. Tive a impressão que o livro seria um tanto lúgubre, meio monótono e original.
Impressão completamente correta.
Veja bem, seria totalmente fora do contexto a Morte em pessoa contar uma história divertida sobre uma menina que vive altas aventuras e divertidas confusões com sua turma do barulho na Alemanha nazista, em plena Segunda Guerra. O livro foi triste, sério, divertido e melancólico como devia ser.
Ainda assim, o estilo do autor me deu uma certa, como dizer... sonolência no começo. Se demorava demais em detalhes, dava voltas sem sair do lugar, a história não se desenvolvia. Era chato, sim. Mas a Morte não tem pressa alguma. Com a idade da própria vida, ela aprendeu a não se prender por detalhes, tais como a história do pai de Liesel, ou o que aconteceu com a sua mãe. Talvez importe muito mais como estava o céu naquele dia, ou como se deve enterrar um corpo corretamente. Se a Morte acha isso interessante, talvez devêssemos refletir o que nós realmente achamos interessante, e por quê.
E Markus Zusak fez isso com maestria. A cada capítulo, ele me dava margem para pensar sobre o capítulo, as almas, Liesel e Rudy, a amizade, o primeiro amor, ou simplesmente sobre a neve. Como sua narradora tem literalmente todo o tempo do mundo, graças a Deus não tem a mania irritante de terminar cada capítulo com uma coisa incrivelmente fodástica. Nem nos faz prender a respiração e ler tão rapidamente que os olhos chegam a arder, como alguns livros insistem em fazer (COF COF Morada da Noite COF COF)
Ela também não tem pressa de chegar ao fim, como nos diz em certo momento. Até mesmo revela o desfecho no meio do livro! Mas nos faz querer chegar ao fim de qualquer jeito.
E o fim... ah, o fim. Tão triste como imaginávamos. Quando Liesel vê o pai sentar-se novamente (não dou spoilers tão grandes assim, não se preocupe), eu tive que parar a leitura, assoar o nariz, lavar o rosto e esperar meus olhos desincharem para poder prosseguir. E quando prossegui, o fim teve um final tão bom que por algum tempo não consegui ler mais nada.
Só tenho uma dúvida: ela ficou com o Max?

Título: "A menina que roubava livros" (The Book Thief)
Autor: Markus Zusak
Editora: Intrinseca (no Brasil)
Ano: 2005
Motivos para dar de presente: muitos, desde que você já tenha um