terça-feira, 10 de abril de 2012

Os estranhos

Saudações, povo da Terra. Eu vim em paz.

E também vim falar de um livro não-tão famoso de um escritor muito famoso. Na verdade, não sei se o livro é famoso, porque nunca ouvi falar dele, o que não quer dizer nada, então o livro pode ser famoso sim. Como pode não ser também, afinal, muito escritor famoso escreve livros que não ficam famosos... Mas esse em especial tem que ser famoso, porque o escritor é um dos mais famosos dos últimos tempos. Não exatamente os últimos, na verdade...
Vish, nada do que eu disse acima faz sentido, melhor eu começar de novo.


Esse livro junta todos os estilos que um bom nerd aprecia: terror, suspense e muita ficção científica. Juro que eu não compreendo como Stephen King pode ser tão... sonolento no início de seus livros, e nos causar tanta insônia nos desfechos. Sério.
...

Na verdade, eu compreendo sim. Quem já leu qualquer romance do Rei sabe como seu estilo é extremamente introspectivo; ele é a Clarice Lispector americana, só que com sobrancelhas mais estilosas. Em O Iluminado, por exemplo: na real só acontece alguma coisa quando Jack enlouquece de vez, no fim da história (ooops, spoilers); antes disso, era pura especulação mental, alucinações, lembranças, suspeitas. Nada real.
Nesse livro, os acontecimentos são um pouco mais... físicos. Muitos, ao lerem a sinopse, acharão que é um livro estranho, no mínimo. E estarão absolutamente corretos.
O livro conta basicamente a história de um disco voador enterrado em uma fazenda de uma cidadezinha, que tem a capacidade de “aprimorar” as pessoas ao seu redor. Esse aprimoramento, aparentemente, deixa as pessoas com tendências – tendendo ao infinito - levemente psicopatas, assassinas e assustadoramente eficientes. Eficientes em qualquer coisa.
A parte ruim da história é que, se você procura emoção, não vai encontrá-la antes da ducentésima página. O livro é dividido em quatro partes, mas em três atos: o durante, o bem antes, o durante (o bem antes e esse durante são da mesma parte), e o depois.

Hãn? Cuméquié?

Sim, você leu certo.  Não, eu não enlouqueci, não importa o que os médicos daqui do hospital digam!
Na primeira parte, temos a apresentação da vida horrível e suicida que o poeta e escritor fracassado Jim “Gard” Gardener levava, a descoberta de Roberta “Bobbi” Anderson da nave enterrada, e os primeiros efeitos que esse artefato causa nas pessoas.
Na segunda, King resolveu contar a história da cidade de Haven, seus escândalos, seu nascimento, sua política, suas lendas, seus acontecimentos absolutamente chatos. No começo achei que era pura enrolação, sabe quando o escritor tem toda uma história escrita em cem páginas, mas seu editor fala “precisamos de mais quatrocentas”? Pois é, achei que era assim, mas não. Tente não dormir nessa parte, ok? É importante.
Na terceira, temos outro durante, mas dessa vez é com outras pessoas. Bobbi e Gard praticamente desaparecem agora, e passamos a ver o que acontece com os outros moradores da cidade.
                Brigas de família, crianças se divertindo, velhos relembrando os bons tempos, jovens se apaixonando, uma mulher explodindo o marido porque ele estava pulando a cerca, um bebê sendo teletransportado para outro universo, essas coisas que costumam acontecer em cidade pequena, sacomé né?
E no depois, temos o desfecho. Simples e realista.
É a partir do segundo durante (?) que começamos a sentir o que qualquer leitor stephenkingniano sente a certa altura de qualquer história: o medo de ler à noite e não conseguir dormir depois. Porque o suspense vai aumentando, te matando aos poucos, exatamente como os moradores de Haven fazem, lentamente... E aí passamos a ler somente em lugares cheios de pessoas, ao meio-dia, olhando para trás constantemente para ver se o tarado da machadinha não está vindo.
O quê, vocês não sentem isso?


...

Bom, eu também não. RÁ-RÁ, peguei vocês! Claro que eu nunca faria isso a partir de hoje, imagina, que ridículo...
Podemos voltar ao livro, por favor?
É, o livro é bom. Mas tem um problema. O livro não é bom.
Eu já disse que não estou louca, caramba!
O livro é bom? Sim, porque foi Stephen King que o escreveu. Mas também não é bom, porque, sinceramente, não está à altura de suas outras obras.
Meu conselho de avó para vocês: se vocês perceberem que um autor está fazendo muito sucesso com certa obra, contrariem todas as leis do universo e NÃO A LEIAM! Vejam se ele tem outras obras, leiam-na antes, porque se vocês não fizerem isso, ficarão com a terrível MALDIÇÃO DA OBRA-PRIMA!


Como identificar alguém sofre dessa terrível maldição? Fácil, cite um autor (ou cantor, ou compositor, ou poeta, serve para todas as áreas) da moda e peça à pessoa sua obra favorita do dito-cujo. Se o que ela disser está na lista dos mais vendidos da Veja, ou é tema de algum personagem da novela, desconfie e peça mais informações. Se a pessoas não souber mais nada do autor, largue tudo e procure logo ajuda médica literária.
Não adianta jogar água benta, enfiar uma estaca de prata em seu coração, procurar as sete Esferas do Dragão ou dar-lhe um beijo de amor verdadeiro.
Se bem que as duas últimas podem funcionar... A penúltima melhor que a última, claro.

Na verdade, essa doença é incurável. Se você a pegou, estará irremediavelmente perdido, para sempre. Eu tenho essa doença nas formas de Carlos Ruiz Zafón – A Sombra do Vento -, Marcus Zusak – A Menina que Roubava Livros – Machado de Assis – Dom Casmurro – Stephen King – O Iluminado e Sistem of a Down - Hipnotize. Dessa forma, jamais poderei saborear uma obra deles com tanto gosto quanto da primeira vez, simplesmente porque já provei seu melhor por primeiro. Não façam como eu, crianças.
Comecem com esse livro. Evoluam para Carrie, a estranha, e no fim da vida, peçam aos seus netinhos para que leiam para vocês todas as obras-primas que vocês levaram a vida toda para se preparar. E morram felizes.

Ah! Agora a treta ficou séria: eu fiz um terrível processo de seleção, e após comer três aranhas, viver em uma árvore por duas semanas e matar um velhinho, finalmente fui aceita como autora do site grande e belo Nerdice. Portanto, muitas postagens daqui irão para lá também, assim como provavelmente várias de lá virão para cá (alguém entendeu?), com algumas alterações mas nada muito modificado. Beleza galera?

Título: Os Estranhos (The Tommyknockers)
Autor: Stephen King ( o MESTRE!)
Tradutora(nova!): Luísa Ibañez
Ano:1987
Motivos para dar de presente: como eu já disse, é pra galera iniciante na arte stephenkingniana. Não vamos começar com algo muito complexo, né?