Fatos absolutamente reais.
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Tenho duas professoras especiais: a Cleoci e a Cleonilce.
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A Cleoci tem duas aulas por semana, mas ela raramente passa
de uma hora.
A Cleonilce tem quatro aulas por semana, e ela sempre toma o
nosso intervalo.
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- Por que a turma inteira faltou na semana passada?
- Porque era dia de trote, professor, o curso inteiro foi
pra rua.
- Ah... A turma inteira?
- O curso todo.
- E ninguém veio pra aula?
-... Não.
- Bom, a primeira aula seria só uma apresentação, mas como
não teve aula semana passada, então meu nome é Tadeu, eu dou a disciplina de
Tricô Avançado. Aqui está meu plano de ensino. A aula de hoje está encerrada.
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Uma vez eu fiquei de exame em Métodos de Tortura Medieval
Chinesa por 0,2 ponto. Não foi por 68 (a média é 70), foi por 69,4. Então eu
fui lá reclamar. Precisava de 0,6 ponto na última prova para alterar a média
final para 70.
- Professor, posso ver minha prova?
- Claro! Veio reclamar de novo?
- Poxa, profe, meio ponto!
- É a vida, desculpa.
...
- Professor, porque você me deu metade da nota nessa
questão?
- Ah, você respondeu tudo?
- Sim, tá aqui, olha!
- Ok, meio ponto, então.
...
- E nessa, profe? A resposta tá inteira aqui! Porque 0,9?
- Você acha que a resposta está completamente certa? Tudo
bem, 1,0 inteiro se você quiser.
Pronto, eu tinha meus 0,6. Feliz, já ia me levantar quando
ele me chamou.
-Ah, nessa outra questão aqui você só respondeu metade, mas
eu te dei um ponto inteiro porque estava bonzinho. Porém, já que estamos
revisando sua nota, nada mais justo do que dar o que você merece, certo? Então,
vamos ver... hum... meio aqui, menos aqui... você aumentou um décimo na sua
nota. Parabéns! Ahn... Seus olhos estão ficando meio vermelhos, acho que você deveria
lavar o ros...
Então eu virei a mesa, prendi a cabeça dele na copiadora,
seu pé no triturador de papel, invadi o laboratório de química, joguei ácido sulfúrico
na cara do professor que me reprovou ano passado e aproveitei pra roubar ácido
nítrico e glicerina – obrigada Tyler Durden -, tranquei a porta do colegiado
com todos lá dentro e explodi o prédio. Depois atravessei o corredor dos alunos
que me aplaudiam e queimavam seus livros em comemoração, fui pra cantina e
dando gargalhadas histéricas, roubei uma coca e saí com cabelos ao vento,
sorriso no rosto e uma katana nas costas, em paz por ter realizado minha boa
ação do dia.
- Sarah? Você está bem? Faz cinco minutos que você não
pisca...
(continua)
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A Cleoci fala tanto e tão rápido que mal dá tempo de levantar
a caneta do caderno.
A Cleonilce explica, pergunta “Entenderam?”, explica de
novo, e daí explica mais uma vez. Se alguém foi ao banheiro por dois minutos
ela explica de novo. Na próxima aula ela faz um previously que dura 50 minutos, em média.
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Aliás, eu já contei a história do meu guarda-chuva?
Lá estava eu, em um lindo dia de tempestade, indo pra
faculdade sem guarda-chuva, é claro.
Nunca andei de guarda-chuva. Sempre achei coisa de mamães e
vovós, assim como comer couve. Apenas mãe gostam de couve!
De qualquer forma, agora que estou relembrando aquele dia, a
faculdade estava especialmente sinistra aquela tarde. O caminho que eu costumo
percorrer, desde o portão até a cantina onde eu vou vadiar estudar estava completamente vazio, um
longo corredor escuro cheio de portas fechadas, lodo nas paredes, gritos nas
masmorras, arrastar de correntes, essas coisas rotineiras.
E uma coisa bateu no meu pé enquanto eu descia a escadaria.
...
JURO que a primeira coisa que me passou pela cabeça foi
isso:
o.O
Enfim, eu respirei
fundo, e como nenhum tentáculo saiu do cimento pra me arrastar ao inferno, eu
continuei descendo as escadas.
Elas estavam estranhamente mais longas naquela tarde. E
vazias, obviamente.
Chegando na cantina todos os meus amigos e colegas de turma
estavam lá, o que é muito mais estranho, uma vez que o tempo não havia mudado
desde que eu terminei de descer a escadaria de SantaHelena, e quando cai um pingo d’água em Florianópolis ninguém vai pra aula.
Foi assim que eu descobri que tinha prova.
(continua)
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A Cleoci aterroriza a gente pra prova, e pergunta coisas
como “quanto é 2+2?” e derivadas.
A Cleonilce diz que vai ser facim, facim e pergunta coisas
como integrais e derivadas.
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Então, depois de entrar em depressão por descobrir que eu
tinha sonhado com explodir o prédio, eu decidi protocolar um pedido de revisão
da prova.
Pra começo de conversa, é quase uma peregrinação à Meca
andar por aquela universidade. Você tem que ir ao colegiado ver se precisa
protocolar. Pra ir do colegiado até o protocolo, tem que subir a Escadaria
dos mil degraus, atravessar a Floresta Sem Caminhos, passar pelos prados
americanos, pegar uma balsa, chegar antes que o helicóptero decole e contratar
um índio como guia.
(O caminho que esse protocolamento segue é maravilhoso
também, merece uma postagem própria com direito a câmera noturna, chip de rastreamento etc)
Beleza, cheguei lá, protocolei, tudo nos trinks. Trinta
segundos depois de sair da sala, comecei a me questionar se adiantaria alguma
coisa protocolar, uma vez que o prazo é de dez dias, e o exame seria dali a
quatro. Então decidi ir na secretaria do curso (o pedido passa por lá antes de
chegar no colegiado) ver quanto tempo demoraria pro meu pedido ser considerado.
Chegando na sala, tinha uma mocinha lá. A seguinte cena
aconteceu:
- Oi, eu queria ver quanto tempo demora pro meu pedido de
revisão de prova chegar no colegiado.
- Não sei... Preciso ver aqui no livro de registros se ele
já passou por aqui.
- Mas eu acabei de protocolar o pedido!
- Mas pode ter chego, eu preciso verificar.
Eu pensei em mágica, correio-coruja, teletransporte,
internet, QUALQUER COISA, exceto um livro de verdade. Afinal, eu não me
lembrava de ter passado por um portal que me levasse pro futuro, então realmente não dava
tempo do pedido chegar. A não ser que entregar protocolos fizesse parte do cooper vespertino da tia da secretaria, identidade secreta do Flash.
A mocinha realmente pegou um livro. UM LIVRO! Provavelmente estava
registrada toda a história da Terra lá! Ela abriu (uma nuvem de poeira cobriu o ambiente) e foi folheando calmamente.
- Deve estar por aqui em algum lugar...
(“O primeiro ser pluricelular apareceu, imediatamente
sentindo o preconceito por parte dos seres unicelulares”)
- Olha, não precisa procurar, não deu tempo de chegar ainda!
- Ué, você não queria saber quanto tempo demora até chegar
no colegiado?
(“ O surgimento do oxigênio na atmosfera provocou uma onda
de protestos entre os seres anaeróbios, que marchavam carregando cartazes
contra a respiração aeróbica obrigatória”)
- Sim, mas eu acabei de sair do protocolo!
- Então, eu preciso saber se já chegou o pedido.
(“O primeiro tetrápode foi recebido com gritos de ‘Traidor!’
pelos outros aquáticos”)
- Mas não tem como ter chegado!
- Como você sabe? Eu ainda preciso verificar!
Quando ela passou por uns rabiscos (“Babilônia V1D4 L0K4”),
eu desisti. Murmurei um obrigada e entreguei pros deuses. Quando olhei pra trás
ela parecia bem interessada na invenção do kama sutra.
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- Bom, tá na hora da aula, até mais galera.
- Ow Castanha, não esquece teu guarda chuva que caiu da
mochila.
(música dramática)
Olhei pro chão, e lá estava ele. Olhando pra mim. Me
senti o próprio Harry Potter sendo
escolhido pela varinha. Juro que ouvi até uns sussurros.
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A Cleoci em média, passa cinco capítulos do livro por aula.
A Cleonilce levou um mês para terminar o primeiro. Capítulo.
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Foi o guarda chuva que mais ficou comigo. Nunca descobri
como ele foi parar lá, mas ele sempre estava misteriosamente enganchado na
minha mochila quando começava a chover.
Dizem que eu perdi ele quando fui pra uma loja, um dia
desses. Eu prefiro pensar que ele cumpriu sua missão, eu aprendi a lição da
minha vida e ele foi iluminar outra pessoa.
Agora só preciso descobrir o que eu aprendi.
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Eu decidi me rebelar e não estudei pro exame. Claro que as
únicas consequências viriam pra mim, mas o ato em si era puramente simbólico. Até que um dia antes do exame me encontrei com o professor.
Ele só disse:
- Já viu sua nota final?
7,0.
O sistema arredonda 6,5 automaticamente pra 7.
Senti como se tivesse ganhado o Blastoise.
Quem disse que a vida universitária é só desgraça?