terça-feira, 20 de março de 2012

Como viver eternamente

Pois bem, o falatório de hoje não é culpa minha! Quem escolheu o livro foi uma ninfa, filha do Rei Peneu; alvo da paixão de Apolo; nome da ópera escrita por Jacopo Peri, a primeira da humanidade, que infelizmente não existe mais; mas também é tema de outra ópera de Richard Strauss (Ele compôs essa obra aqui, pouco conhecida); e por último, mas não menos conhecida, é o membro mais desinteressante de um grupo drogado, que vê alucinações e conversa com um cachorro frequentemente.

                       Isso mesmo, Dafne, nossa convidada especial! Palmas!
Minha melhor amiga tem um nome exótico. Morram de inveja.

É, ela que escolheu. Nós temos basicamente o mesmo gosto por livros, embora ela seja saudavelmente menos fanática do que esta devoradora que vos fala. Em verdade, ela prefere fazer outras coisas, como, sei lá, estudar e ser alguém na vida, enquanto eu prefiro curtir a vida adoidado.

Por falar nisso, “Ferris Bueller’s Day off”, o velho conhecido da Sessão da Tarde “Curtindo a vida Adoidado” é dos meus filmes-mais-que-preferidos, e tem uma participaçãozinha mais-que-especial de um carinha aí que foi lindo na juventude e já trabalhou com dois homens e meio. #fikdik
Como vocês devem perceber, eu tenho muitos filmes-mais-que-preferidos. Isso às vezes me faz pensar que gasto muito do meu tempo nessas ficções, ao invés de viver a vida adoidado real, quem sabe arrumando um namorado, estudando, ou matando essas aranhas mutantes que vivem na parte de baixo da minha cama e insistem em tentar comer meu pé à noite.

Ahnn, como foi que chegamos nesse assunto mesmo? Ah, certo, o livro.



Maravilhosamente sensível e sensivelmente maravilhoso. É a história, em primeira pessoa, de Sam, um garoto com leucemia, e suas listas.

Primeiro livro de Sally Nicholls, é claro que o livro transpira inexperiência, mas isso não impede em nada de ser um dos melhores livros que já li. Inclusive, esse livrinho ainda dá porrada em muito escritor com mais estrada por aí ~ COFpauloCOFcoelhoCOF ~ apesar de Sally ter escolhido o que é provavelmente o segundo tema mais comum em dramas: câncer. Sempre que você, escritor, quiser arrancar lágrimas amargas das pessoas, acrescente algumas células com crescimento desordenado em alguns órgãos do corpo do pai de alguém, ou em seu recém-descoberto amor da sua vida, ou em seu filhinho adorado, ou em seu venerado mestre/mentor/padrinho. A morte será muito mais dolorosa, e você conquistará o amor dos leitores.

O primeiro tema mais usado é a guerra, se vocês quiserem saber. E com uma frequência que chega a ser desconfortável, a Segunda Guerra Mundial, seus horrores, seu desespero, blá blá blá.

Bem, mas essa história é um pouco mais do que as simples emoções de um garotinho que sabe que vai morrer em pouco tempo. Alguns anos se passaram desde que li esse livro pela primeira vez, mas minha opinião ainda é a mesma: a história não seria nada, se Felix não estivesse lá.
Felix é o melhor amigo de Sam, e também está morrendo. E como na grande-esmagadora-imensa-gigante-maioria das histórias em que o personagem principal vive uma saga (no caso, a própria vida de Sam é uma grande aventura), os amigos coadjuvantes são essenciais (sem falar que também são muito mais interessantes), e o protagonista não seria nada sem eles.

Sério. Foi assim com Frodo e Sam, com Harry Potter e Rony e Hermione, com os Irmãos Baudelaire, com Elliot e o E.T., com Han Solo e Chewbacca. O principal pode ter ficado com a glória, com a luta final, com o inimigo mais perigoso, mas ele não teria feito nada sem suas amizades.
E a mesmíssima coisa acontece aqui. Sam pode não reconhecer, mas Felix é seu suporte, seu amigo, seu incentivador, seu motivo para não sucumbir. As listas de Sam não valeriam nada sem ele, e sua morte é mais marcante do que a do próprio narrador.

Que agitação é essa aí no fundo?
NÃO comecem a dar chilique porque dei spoiler, é perfeitamente ÓBVIO que eles morreriam, ou francamente, vocês REALMENTE acreditam que esse tipo de história teria um final feliz? Parem de gritar! PAREM!

Bando de frescos...

Onde eu estava mesmo? Ah sim, lembrei. A morte de Felix.
Sabe, sua morte em si não é muito emocionante. Na verdade, a missa do funeral é que ativou meus ductos lacrimais... E fez a nossa convidada Dafne ser alvo de comentários e boatos na escola porque ela leu essa parte bem no meio da sala de aula, e tenho certeza que muita gente ignorou totalmente o fato dela estar com um livro na mão, intitulado “Como viver eternamente”; que esse livro era claramente triste; que ela em seguida se virou e comentou "meu, essa parte é muito triste!"; não, provavelmente devem ter dito por aí que ela estava grávida de um sem-teto, ou qualquer coisa parecida.Sério, essa gente deve ter algum bloqueio, ninguém na minha sala era capaz de enxergar um livro! Exceto pelos meus amigos =) De fato, líamos tanto que uma vez tivemos uma discussão terrível, com direito a vasculhar os livros em busca de referências, sobre qual era o animal que era símbolo da casa da Lufa-Lufa, um texugo, uma gambá ou um urso?
Texugo, claro. Eu ganhei essa.

Como eu cheguei nesse assunto mesmo?²


E por fim, quando fechei a estória, por um momento tive vontade de ter alguma doença terminal, só para conseguir a habilidade que Sam tem: ele faz listas de resoluções, e as cumpre. Todas, até mesmo sua viagem à lua – que, aliás, foi meu segundo momento de pausa para limpar os olhos – ele cumpre. E novamente, não teria conseguido cumprir quase nenhuma se não fosse por Felix.

Contemplem a primeira página do livro, sua primeira lista:



Sim, chorem.

E... é isso. Uma resenha curtinha (ou não) para um livro curtinho, e espero que tenha sido também uma resenha ótima para um livro ótimo.





Título: Como viver eternamente ( Ways to live forever: Every minute counts )
Autora: Sally Nicholls
Editora: Geração Editorial
Ano: 2007
Motivos para dar de presente: qualquer idade, qualquer nível de leitura, qualquer estado emocional merece lê-lo.


PS.: Essa droga de blog me inspira. Então, além de fazê-lo meu depósito diário de livros, eu o farei também meu laboratório; pretendo publicar algumas experiências literárias minhas, talvez contos, crônicas, ou até romances.
Mas provavelmente não na próxima postagem, talvez nem na outra. O importante é que farei.

E pela primeira vez estarei totalmente aberta às suas críticas, então pelo menos uma vez parem de fingir que gostam do que escrevo e me digam a verdade. De verdade!