sexta-feira, 25 de maio de 2012

Feliz Dia da Toalha! Feliz Dia do Orgulho Nerd! - O Guia do Mochileiro das Galáxias


Só demorei pra postar porque minha vida tem tido um pouco de agitação ultimamente. Imaginem vocês que um dia eu estava na rua, encontrei uma moeda e... Enfim, fora ter que doar meu rim à máfia holandesa, está tudo bem agora.
Se vocês virem por aí um cartaz de “PROCURADA”, não sou eu, ok?

Muitas pessoas têm me cobrado para falar de várias séries. Harry Potter, Desventuras em série, A Herança (mais conhecida por ‘Eragon’), O Senhor dos Aneis, Morada da Noite (ok, esse ninguém me cobra)... Mas decidi por um bem mais hardcore. Para comemorar o Dia da Toalha. Agora vocês entenderão porque tinha gente por aí com uma toalha na mão. Não, não era uma festa do banho coletivo do qual você não foi convidado.

Na verdade, eu demorei pra falar sobre essa série, porque é preciso estar extremamente inspirada para isso. E, como a maioria das pessoas, eu sempre tive minhas melhores ideias enquanto tomava banho, então decidi levar meu PC para o banheiro, a fim de registrá-las.
Como qualquer pessoa normal faria.
 Postei sobre isso no facebook, pessoas comentaram, e não sei como, a conversa evoluiu para uma possível estreia minha na indústria pornô e a possibilidade de ficar linda, rica e famosa fazendo isso.
Não postarei mais sobre isso. Ideias absurdamente atraentes podem surgir...



*pensando sobre o assunto*



*eu teria que me depilar com frequência muito maior*


*e pagar a conta d’água*





*desistindo da ideia*


Então, o texto que se segue foi escrito em inúmeras etapas - cada vez que eu ia buscar referências em algum dos livros eu resolvia ler um pouco mais e inexplicavelmente tinham se passado duas horas - e regado a muita dinamite pangaláctica.


O livro mais vendido em toda a galáxia, exceto no setor ZZ9 Plural Z Alfa.



O Guia do Mochileiro das Galáxias é uma série de ficção científica de Douglas Adams, baseada em um programa de rádio do mesmo autor de 1978, que virou uma série de seis episódios da BBC e um filme em 2005. É uma trilogia de quatro livros, que por acaso são cinco, que conta as aventuras de Arthur Dent, Ford Prefect, Zaphod Beeblebrox, Trillian, e o melhor de todos, Marvin, o robô maníaco depressivo.

Quando eu comprei a série, confesso que não sabia nada sobre ela. Geralmente os livros que eu compro na loca me rendem ótimas surpresas – como o excelente livro de aventura Choque Mortal – enquanto outros muito bem recomendados provavelmente viram uma decepção – vida A menina que não sabia ler.

Mas minha única referência para o Guia era “Superdesconto Submarino! Toda a coleção Guia do Mochileiro das Galáxias por apenas R$29,90!”. E foi uma das melhores surpresas da minha vida. Provavelmente empatado com o dia em que eu perdi a... Ahnn, foi a melhor surpresa da minha vida, com certeza.

Os livros pingam ironia, tiram sarros de si mesmos, aplicam conhecimentos gerais, física, biologia, astronomia, matemática, filosofia, teologia, cultura geral e geek praticamente o tempo todo. E, mais importante, trolla o leitor constantemente.
Exemplo:

 – Sabe – disse Arthur – é em ocasiões como essa, em que estou preso em uma câmara de descompressão de uma espaçonave vogon, com um sujeito de Betelgeuse, prestes a morrer asfixiado no espaço, que realmente lamento não ter ouvido o que minha mãe me dizia quando eu era garoto.
- Por quê? O que ela dizia?
- Não sei. Eu nunca escutei.
 E você aí, achando que o que viria a seguir seria um ótimo conselho maternal né? BAZZINGA!

Não sei vocês, mas sempre separei, instintivamente, as pessoas ao meu redor se gostavam ou não de Simpsons. Se não, automaticamente as tratava de um jeito diferente. De cabeça, agora, me lembro de umas quatro pessoas, e já peço desculpas antecipadamente: a culpa não é minha se meu subconsciente prefere pessoas que apreciam a boa e fina sátira! Minha consciência apenas segue ordens!
Depois de separar as pessoas nessas categorias, eu ia para casa, assistia a algumas temporadas em Springfield. Depois lia uns capítulos do Guia. Depois via mais algumas em Springfield.

E daí me perguntava: COMO é possível alguém não gostar disso!?

Sério, não entendo. Se o estilo dele fosse difícil de ser compreendido – como João Guimarães Rosa – ou fosse extremamente descritivo – como Tolkien – com muito esforço, eu entenderia.
E só leio Senhor dos Aneis porque acho que o enredo supera qualquer necessidade de se saber contar uma história. Poderia ser contada em forma de hai cai, que ainda assim seria uma das melhores histórias já escritas.


Foco, Sarah, foco... Você fala sobre isso outro dia...

Mas sério, eu não entendo.
Ora bolas caraminholas, quantos autores de sci-fi você conhece cujo personagem SECUNDÁRIO – O Pensador Profundo - descobriu a resposta para a pergunta que aflige a humanidade sobre a Vida, o Universo e Tudo Mais?
Quantos autores ateus você conhece que provam a existência e a inexistência de Deus no mesmo parágrafo?
Quantas explicações para o fato do ser humano falar o óbvio constantemente você conhece que são melhores que se não exercitarem seus lábios constantemente, seus cérebros começam a funcionar?

Mas sério, eu não entendo.
E só aceito duas boas explicações para esse desgosto: ou você tem ataques epiléticos inexplicáveis quando lê/ouve a palavra “galáxia”, ou você tem síndrome de Asperger, que um dos sintomas apresentados é a incapacidade de se entender o sentido metafórico de expressões, tais como ironia.

Teste rápido de sarcasmo:
Você gosta desse cara?

O dono do sarcasmo-perfeito-na-tv.

Bem, o sarcasmo do livro é bem mais livre do que o de House. Ninguém, na galáxia inteira fica te falando “oooooooooooh o seu sarcasmo é ácido, por isso você afasta a todos e não quer amar ninguém, bla bla bla”. Ao contrário, você pode até mesmo ser o presidente da Galáxia! Se bem que todo mundo sabe que a função do presidente é desviar a atenção do poder, e que o verdadeiro poder é controlado por alguém que conversa com uma mesa.
 Mas mesmo assim, ninguém diz pro presidente “seu sarcasmo protege seu coraçãozinho, mas eu quero amá-lo!”


Malditas mulheres, sempre estragando os melhores seriados.

Não, no Guia, você lê trechos como esse:

 O robô fez um gesto, levantando a mão.
- Eu venho em paz – anunciou ele, acrescentando após um longo momento de esforço adicional -, levem-me ao seu lagarto.
Ford Prefect, é claro, tinha uma explicação para aquilo tudo, enquanto assistia com Arthur às repetidas reportagens frenéticas na televisão que, por sinal, não tinham nada a dizer, além de anunciar que a coisa tinha causado um prejuízo tal, avaliado em tantos bilhões de libras e que tinha matado aquele outro número completamente diferente de pessoas, e depois repetiam tudo novamente, porque o robô, desde então, estava prostrado, balançando levemente o corpo e emitindo pequenas mensagens de erro incompreensíveis.
- Ele vem de uma democracia muito antiga, sabe...
- Você está querendo dizer que ele vem de um mundo de lagartos?
- Não – respondeu Ford que, àquelas alturas, já estava um pocuo mais racional e coerente do que antes, tendo finalmente sido forçado a tomar uma xícara de café -, nada tão trivial. Nada assim tipo isso tão compreensível. No mundo dele, as pessoas são pessoas. Os líderes é que são lagartos. As pessoas odeiam os lagartos e os lagartos governam as pessoas.
Ué – comentou Arthur -, achei que você tinha dito que era uma democracia.
- Eu disse – afirmou Ford. – E é.
- Então – quis saber Arthur, torcendo para não soar ridiculamente estúpido -, por que as pessoas não se livram dos lagartos?
- Isso sinceramente nunca passou pela cabeça delas – disse Ford. – Como elas têm direito de voto, acabam supondo que o governo que elegeram é mais ou menos parecido com o governo que querem.
-Quer dizer que eles realmente votam nos lagartos?
-Ah sim – disse Ford, dando de ombros -, é claro.
- Mas – perguntou Arthur, sem medo de ser feliz – por quê?
- Porque, se deixam de votar em um lagarto, o lagarto errado pode assumir o poder. Você tem gim?
-O quê?
- Eu perguntei - disse Ford, com um tom crescente de impaciência entranhando-se em sua voz - se você tem gim.
- Vou ver. Conte-me sobre os lagartos.
Ford deu de ombros novamente.
- Algumas pessoas dizem que os lagartos são a melhor coisa que já lhes aconteceu - explicou ele. - Elas estão completamente enganadas, é claro, completa e absolutamente enganadas, mas é preciso que alguém tenha a coragem de dizer isso.
- Mas isso é terrível - disse Arthur.
- Olha, meu camarada - disse Ford -, se eu ganhasse um dólar altairiano cada vez que eu ouvisse um fragmento do Universo olhando para o outro fragmento do Universo e dizendo "Isso é terrível", eu não estaria sentado aqui como um limão procurando por um gim.

Douglas Adams sambando na cara da sociedade.

E quando você começar sua busca pelo conhecimento do Guia, ouça seu coração e ignore a ignorância (oi?) ao seu redor. Pessoas dirão que o livro é pura ficção e entretenimento. Dirão que nada daquilo é real. Que eu devo largar o Guia e sair ao sol, pelo menos uma vez por semana. Que relógios digitais são uma boa ideia.

Não acredite nessa gente.

Em “O Guia do Mochileiro das Galáxias”, aprendi algumas verdades sobre o mundo, e também que estou no setor mais sem graça do universo, onde a toalha não tem o seu devido valor reconhecido. E aprendi a temer a Chegada do Grande Lenço Branco. E aprendi qual é o sentido da vida.
Em “O Restaurante no Fim do Universo” eu tive uma aula de filosofia melhor que todas as que eu tive no colégio e na faculdade somadas. Descobri a verdadeira origem da girafa, e também quanto é seis vezes sete.
Em “A Vida, o Universo e Tudo Mais”, aprendi sobre como a sociedade funciona melhor do que qualquer sociólogo por aí poderia explicar. E que um sofá vermelho flutuando numa Terra pré-histórica tem mais importância do que você pensa.
Em “Até mais, e obrigado pelos peixes!” aprendi mais sobre física, química e astronomia que o próprio Mundo de Beakman pôde ensinar. E aprendi a rezar por Bob.
Em “Praticamente Inofensiva”, aprendi que nada é o que parece, e nem tudo tem o final que você deseja.
Em “E tem mais uma coisa...” eu não aprendi nada, pois ainda não li. Não foi escrito por Douglas Adams, e sim por Eoin Colfer
.
Espera, o quê? WTF?

Sim, isso mesmo. Parece que muita gente não ficou feliz com o final do quinto livro – também, pudera né? – e foi feito um concurso para escrever o último livro. A versão desse cara foi considerada a melhor versão pós-mortem literária já feita, e seu livro também é considerado um final alternativo ao quinto livro, o que é estranho, porque o quinto livro já é considerado um final alternativo para a série. Tudo, isso é claro, devidamente autorizado pela família Adams.
Aposto que foi ideia da Mãozinha, aquela sapeca...

...

Piada ruim, ok.


...


Parem de ficar me recriminando, podemos voltar ao texto!?


É sério, eu costumo recomendar essa série a qualquer um que saiba ler. Se você não gostar, por favor, não espalhe. Diga que você é analfabeto, diga que só lê em aramaico e não traduziram ainda, diga que se não puder ler ao contrário sem aparecer uma mensagem do demônio não tem graça, DIGA QUALQUER COISA, mas não diga que não gostou.
Por favor.

O que eu tento dizer nesse texto é que essa série me fez abrir uma nova categoria de livros na minha cabeça. A categoria “Estilo-Guia”. Bem ao lado de “Estilo-Luis-Fernando-Verissimo” (na minha opinião o único que poderia se equiparar a Douglas em humor).
Talvez por isso eu relutasse tanto em assistir ao filme. Afinal, como poderiam traduzir em imagens, por exemplo, toda a indignação que Wonko, o São, sente pela humanidade? Como explicar a vidinha pacata que Arthur tentava levar pela galáxia, sem perder pelo menos quarenta minutos de explicações?
Tinha medo, muito medo...

 Mas após muita insistência, dois litros de vodka e sutis ameaças de exposição pública de certas fotos íntimas, eu finalmente aceitei, esperando qualquer coisa dessa película. Qualquer coisa mesmo. Se a Samara saísse da tela eu não me surpreenderia.
E enquanto todos ao meu redor riam às lágrimas com Zaphod, ou se indagavam sobre a criação do motor da improbabilidade infinita, eu me peguei admirando e babando em silêncio sobre a genialidade sem fim de Adams; como ele conseguiu fazer uma sinopse de cinco livros com assuntos aparentemente sem nexo, e transformá-los em um filme que fizesse sentido; como ele teve a grande sacada da Arma do Ponto de Vista e dos seres Perseguidores de Ideias no solo de Magrathea; como o filme conseguiu caracterizar os vogons à perfeição; como diversos símbolos dos livros foram inseridos, mesmo sem terem conexão com a história do filme (os caranguejos feitos de pedras preciosas e a estátua de Arthur que Agrajag fez sequer são mencionados pelos personagens, mas estão lá); como ele conseguiu até mesmo colocar alguns velhos clichês cinematográficos aparentemente obrigatórios (por favor, acha mesmo que Douglas Adams iria fazer espontaneamente um final tão ruim assim para Arthur e Trillian?), e ainda assim arrancar aplausos da plateia.

Não estou dizendo que o filme é uma alternativa à série. Isso nunca aconteceu, exceto em Game of Thrones. Mas supera as expectativas, e ainda assim com certeza é um filme diferente de todos os outros.

Talvez O Guia do Mochileiro das Galáxias seja que nem os Simpsons. Tem que ter um motivo muito bom para não gostar. Como ser um vogon, sei lá.
Com certeza a conversa mais interessante do mundo seria entre House, Douglas Adams, Luis Fernando Verissimo e Homer Simpson. Principalmente porque a parte de Adams teria que ser mediada por um médium(oi?²), já que ele morreu no dia 11 de maio de 2001. E o mundo chorou com isso. E todos se uniram e elevaram suas varinhas aos céus em direção à Marca Negra de Voldemort para fazer uma homenagem a um dos maiores gênios da humanidade, criando o Dia da Toalha. O dia 25 de maio foi escolhido tanto porque foi a data do lançamento do livro quanto para fazer uma junção com Dia de Star Wars (quando estreou o primeiro filme, em 25 de maio de 1977) e também pelo "Glorioso 25 de Maio" para os fãs da série Discworld; tudo isso juntou-se dando origem à Santíssima Trindade do Dia do Orgulho Nerd. No caso do Guia, dia pessoas desfilam com suas preciosas toalhas - essenciais para um mochileiro das galáxias - por aí. 
(Não SÓ de toalha, por favor, que esse mundo ainda é um mundo de família.)
 Simples, e ao mesmo tempo simboliza a importância que O Guia do Mochileiro das Galáxias tem para nós: nos sujeitamos a ser linchados na rua só para declarar o nosso amor.
Parabéns, Douglas Adams. Feliz Dia da Toalha pra você, e Feliz Dia do Orgulho Nerd a todos nós.


Título: - O Guia do Mochileiro das Galáxias(The Hitchhiker's Guide to the Galaxy)
- O Restaurante no Fim do Universo (The Restaurant at the End of the Universe)
- A Vida, o Universo e Tudo Mais (Life, the Universe and Everything)
- Até mais, e obrigado pelos peixes! (So Long, and Thanks for All the Fish)
- Praticamente Inofensiva (Mostly Harmless)
- E tem outra coisa...(And Another Thing)
Autor: Douglas Adams (o livro 6 foi por Eoin Colfer)
Tradutores: Marcia Heloisa Amarante Gonçalves, Carlos Irineu da Costa e Paulo Fenando Henriques Britto
Editora: A primeira edição dos 4 primeiros livros foi lançada pela Editora Arqueiro. A reedição e os livros 5 e 6 foram pela Editora Sextante.
Ano: 1º: 1979 - 2004
2º: 1980 - 2004
3º: 1982 - 2005
4º: 1984 - 2005
5º: 1992 - 2006
6º: 2009 - 2011
Motivos para dar de presente: eu tenho 42 ótimos motivos para dar, mas não me pergunte por quê.

2 comentários:

  1. É a sua cara Sarah!!!
    Gostei criativo.

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  2. Sarah, muito bom como sempre! Eu realmente sou um fã do humor sarcástico, o que sobra em seu blog. Me gusta.
    E esse trecho do cara "sambando na cara da sociedade" - eu ri com essa - é simplesmente FODA!
    A propósito (ou não): qual o sentido da vida que você aprendeu?

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